Sunday, June 27, 2010



Encontrou-me há dias, de rabo assente numa caixa de cartão que se estendia debaixo da árvore que não dá mangas...

Disse-me que receberia os meus panos aos fins-de-semana...

E sorriu.

Saturday, May 22, 2010

Cansaço

Escrevo o que me dizes. Escrevo sempre, não páro.

Escrevo o que eles vão dizendo também, enquanto seguem o seu caminho.

De costas voltadas, seguem conversando num alegre silêncio que procuro entender. Onde irão?

Schhh! Espera! Não digas nada agora. Não consigo ouvir o entusiasmo deles, assim, se me falas com toda essa tristeza. Como vou poder escrever essa alegria, se não a oiço? Se o teu choro a abafa? Mas... seria alegria mesmo, ou apenas um cansaço não reclamado?

Tu, que dizes agora? Porque já não falas? Porque te calaste?
E eu, se já não os vejo... se já não te oiço... será que me perdi?
O caderno caiu-me das mãos. Estou cansada. Já não escrevo mais.

Tuesday, March 30, 2010

Por essa estrada...

Amigo

Maior que o pensamento

Por essa estrada amigo vem

Não percas tempo que o vento

É meu amigo também.

Em terras

Em todas as fronteiras

Seja bem vindo quem vier por bem

Se alguém houver que não queira

Trá-lo contigo também.

Aqueles que ficaram

(Em toda a parte todo o mundo tem)

Em sonhos me visitaram

(...)

Zeca Afonso

Medo



E uma delas fugiu, gritando: "Es i brabu!"

Tuesday, March 23, 2010

O sentido do caos


Sinto, não quero,

desencontro,

não existem, perto,

velha, silêncios, dinheiro,

nunca, desentende,

depois, sentimentos, gostava,

não vejo, afastando, futuro, primeiro,

tempo, não sei, vontade, mas sei, agora,

sentido, partilha, nova, assim...

Saturday, March 20, 2010

Tuesday, March 16, 2010

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas de mãos.
E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
(Manuel Alegre)

Wednesday, March 3, 2010

Entretanto

Entre cá e lá...

Entre o antes e o agora, entre o caminho do mar ou o do Boé, entre um grito agudo ou suave, entre uma roupa que se veste ou que se despe, entre um suspiro de alívio ou um engolir de angústia, entre o sul ou o leste, entre o sair ou ficar, entre o som do aparelho de rádio ou o silêncio, entre o sumo de veludo ou de cabaceira, entre arriscar ou hesitar, entre subir ou descer, entre peixe ou galinha, entre arroz deste ou daquele.

Entre tanto e tão pouco, entre cá e lá...

Tempo passado


- Velhice, velhice! Morro de saudades tuas, apesar de nunca te ter conhecido...

- Devia ter-te contado tanta coisa! Porque não me fizeste todas as perguntas?

- Não tive tempo. Aquelas filas nunca mais acabavam, e passei nelas todos estes anos.

- Onde te levaram essas filas?

- Às respostas que perdi.

Monday, March 1, 2010


A suspeita sempre caminha adiante das risadas largas,
escondidas na rectaguarda,
prontas a serem lançadas
a qualquer momento
sobre essa dúvida vacilante...

Mudam-se os tempos, mudam-se os... frutos!

Se neste cesto se empoleirassem todas as minhas incertezas – tal como ontem se empoleiraram nas minhas mãos os primeiros galinácios que catrafilei – retiraria a cada caju a sua firme e confiante castanha e, deixando o fruto para futuros momentos de embriaguez, torra-la-ia de sucessos,
já antevistos por gentes destas paragens.
Benvindo, caju!

Depois de ti, a manga, já à espreita em cada esquina...

Wednesday, February 17, 2010

Formas

Seria assim a imagem traçada no quadrado com que me presenteaste aquela noite?
Tinha ao menos qualquer coisa de parecido, talvez?
Algo que se assemelhava a esta sensação?
Bom, não é exactamente quadrangular, eu sei.
Mas têm forma, as sensações?

Sunday, February 7, 2010

E?

E quando os pensamentos são segredos que se consomem, rasgam, queimam...
para se perderem depois?

O tempo...






Quase acreditei que vários meses tivessem passado num respirar suspenso,


Que as horas tivessem dado a volta àquela capelinha branca onde passava sempre que saía da praia pela tua mão,


E que, distraindo o bocejo que insistia em relevar-se no passar de todos esses minutos, quase amarrotando o teu vestido preto, os teus olhos grandes tivessem estado sempre aqui.


Tudo não passou, afinal, de uma silenciosa caminhada, vagarosamente doce...